segunda-feira, outubro 31, 2016

Série: a difícil-incrível arte de viver: parte I



DIZENDO SONOROS E REDONDOS "NÃOS"

1. Há pessoas que querem que você acredite que uma "aberração democrática" é melhor do que um idiota financiado pela fé de grupos cristãos. Essas pessoas se consideram inteligentes, juram que conhecem a verdade, sabem o que é certo não só para si mesmas, mas para a capital mais linda do País.

2. Por causa da crença nessa sabedoria-própria, passam meses fazendo "memes" e lançando frases ora maldosas, ora catastróficas nas redes sociais. Elas querem disseminar o pânico numa classe média-ideal, a que elas pertencem, mas, esquizofrenicamente, acham que não. Tudo vale, a fim de impedir que o pastor babaca vença o bandidinho vermelho. Nessa "causa carioca", elas têm, sim, e muito, o apoio em peso da mídia, mas fingem que não.

3. Aí o mundo gira, porque lhe é próprio girar, e acordamos numa segunda-feira belíssima, quando as amendoeiras e os passarinhos mais nos comunicam a primavera. A luz da vida é tão cristalina que nossos olhos, ao sair à varanda, lacrimejam. Antes do café, é preciso um banho, para só então abrimos, um a um, os canais de notícias, e sermos devidamente avisados que o Rio de Janeiro disse "não".

4.Não é não. Diante dele, às crianças restam o choro; aos adultos, a dignidade do respeito, da aceitação - esse mesmo respeito e essa mesma aceitação do outro que as tais pessoinhas tanto pregam que defendem, que conhecem, que praticam, mas que, curiosamente, desaparecem num piscar de olhos de suas cabecinhas e comportamentos, basta que o mundo concreto seja diferente daquele idealizado por elas.

5. Dentro da difícil-incrível arte de se viver nesse velho mundo, percebemos, de sobrancelhas arqueadas, que essas pessoinhas inteligentes e donas da verdade, além de não aceitarem um "não", ainda querem vomitar ressentimento e palavras amargas contra o Rio de Janeiro. Devem ter mentalmente 4 ou 5 de idade, por isso, choram, esperneiam, agridem, falam em luto no Facebook. Algumas ofendem diretamente os cariocas, outras, querendo soar irônicas, lamentam e desejam coisas ruins ao Rio. Sim, serão quatro anos de miséria, catástrofes, violência (mais?), sabe-se lá. Profetizam o apocalipse à cidade maravilhosa, porque o bandidinho acéfalo perdeu e o pastor babaca ganhou.

6. Tudo bem, nós entendemos: não levaram aquela bronca no shopping center, há anos, quando gritaram por tal brinquedo diante de pais constrangidos; sem limites, cresceram achando que o mundo tem obrigação de suportar seus calundus e sua dificuldade de raciocínio. Tudo bem, tudo bem, vamos fazer vista grossa, dar um tapinha na cabeça e pacientemente dizer: calma, respirem direito, amanhã ainda vai ser pior que hoje, tenham calma.

7. O Rio de Janeiro, Beleza-plena, Beleza-infinita, não ouvirá essas gralhas ao seu redor. É um lugar que guarda fragmentos de quando o mundo era perfeito, e de sorte não tem ouvidos, tampouco guarda mágoas. O Rio de Janeiro tem apenas uma boca coletiva, e essa está dizendo "não". Um não sonoro e redondo. Um "não" que é seu, por direito.

Em Não se vai sozinho ao paraíso, primeiro romance que integra a trilogia místico-erótica de Állex Leilla — cujo centro são as micro-...