terça-feira, maio 13, 2014



- Então parou de chover, mas o vento continua. Fortíssimo. Um gato persegue um mico, e esse sobe feito raio na árvore. E o gato não sobe atrás? Não, não sobe, fica embaixo, olhando o outro. Que estranho, não? Sequer sabia eu que gatos corriam atrás de micos. E há tantos, há muitos, há milhares no campus da UEFS.

- É preciso dar parecer num texto fruto de uma pesquisa em que se discute a imprecisão dos conceitos gramaticais e sua utilização na sala de aula. Quer o autor nos fazer crer que é esse um dos motivos do baixo aprendizado do português padrão no nosso país. São hordas de jovens que mal sabem redigir um parágrafo, hordas de portadores de diploma. E seria a imprecisão dos conceitos de sujeito, predicado, adjunto... seria essa uma das razões pra se passar anos numa escola e de lá sair sem sequer saber ler e escrever? Então temos um país que não sabe ler nem escrever por que não lhe foi ensinado corretamente os termos da oração? Será que nossos avôs sabiam disso? Ligar pra meu avô, lá em Bom Jesus da Lapa, e perguntar. Ou ligar pra meu pai, que escreve sem erro algum e só fez o "curso técnico de contabilidade" - ainda existe?

- Que tristeza isso de avaliar o que não é passível de ser avaliado. Que tristeza isso de se pesquisar o que não carece de ser pesquisado. E tudo piora porque lá fora há vento, lá as árvores estão verdíssimas, lá fora há gatos correndo atrás de micos, lá fora uma tarde se espalha e eu não posso me avarandar com ela, ao contrário, tenho de me encolher cada vez mais.

- Mas então uma mágica: resolvo que há um intervalo. Não sei bem de quê, porém, se acabo de resolver sua existência, é por que ele há, correto? Sim, ele há, do verbo haver, assim como em outras línguas ele chove e ela anoitece, agora, de repente, mesmo no sentido de existir, aconteceu isso de o verbo haver ter sujeito. Que se vai fazer? A língua portuguesa é assim - insuportável. E sendo assim, nesse intervalo ora inventado, eu mereço um café, bem como mereço desanuviar os olhos do mundo dos textos tortos, dos textos que já nascem mortos (pé de pato, mangalô).

- Tiro da pasta um texto de Vargas Llosa, deixado na minha mão pela Moira Flávia, e leio. Isso é desanuviar não apenas os olhos, mas a alma. Café e Vargas Llosa. Pra que mais? Chama-se Carta a um jovem escritor e, à maneira de Rainer Maria Rilke, que em sua Carta a um jovem poeta define o estranho ofício de se entregar à poesia, Vargas Llosa define a rebeldia, a inadequação ou, melhor ainda, a difícil tarefa do escritor de conviver, eternamente, com uma solitária no estômago. Imagem nojenta, é verdade, mas tão verdadeira!

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