quarta-feira, novembro 13, 2013

Biografias: autorizadas X não-autorizadas


Nos bastidores da FLICA (Festa Literária Internacional de Cachoeira-BA), o portal de notícias G-1, através da repórter Danutta Rodrigues, perguntou a vários escritores sobre a polêmica do momento: biografias autorizadas X não-autorizadas. Além de mim, Critóvão Tezza, Joca Rainers Terron, Eduardo Bueno, Tom Correia, Eliser César, Gláucia Lemos, Laurentino Gomes, entre outros, opinaram. Os vídeos podem ser acessados no portal G-1.
Minha resposta está no vídeo disponível em:
http://globotv.globo.com/rede-bahia/g1-ba/v/autoriza-ou-nao-autoriza-allex-leilla-opina-sobre-polemica-das-biografias-na-flica/2920407/

Há também uma matéria resumindo todas as opiniões dos escritores entrevistados no site Lei e Mídia Democrática:
http://www.fndc.org.br/clipping/escritores-opinam-sobre-publicacao-de-biografias-sem-autorizacao-932208/

quinta-feira, novembro 07, 2013

Sexualidades e Cidades - quem é quem em Chuva Secreta


SEXUALIDADES E CIDADES DO LIVRO CHUVA SECRETA
1. O Gato Que Ri (hétero, São Paulo)
2. Senhora Minha (hétero, Belo Horizonte, Palmas e Rio de Janeiro)
3. Conexo (lésbico, Belo Horizonte)
4. Quando Estávamos Nos Mesmos Arvoredos (abstêmio, Salvador)
5. O Que Sobra Do Azul Quando Breu (gay, Salvador)
6. O Eixo e a Sombra (hétero, São Paulo)
7. *Felicidade Não Se Conta (gay, Maceió)
8. **Não Se Esqueça de Pisar Firme no Coração Do Mundo (abstêmio, Aracaju)
9. Epiceno (transgênero, qualquer cidade do mundo)



*Vencedor do 20º Concurso de Contos Luiz Vilela)
** Conto selecionado e traduzido pro alemão, na antologia Wir Sind Bereit, da Ed. Lettrèatage, lançada na Feira de Frankfurt, em outubro de 2013.

LANÇAMENTO DO LIVRO Chuva Secreta - 09/11/2013, às 19h, no stand da Casarão do Verbo, Bienal do Livro da Bahia

domingo, novembro 03, 2013

Convite Lançamento Chuva Secreta


Chuva Secreta: paixão e autenticidade num mundo molhado de signos

O impossível de ser retido, o que não podia sofrer um rewind e renascer. As melhores lembranças. Borboletas dentro de uma chuva secreta, porque impossível, desviando dos pingos, procurando abrigo. Mas ele teimava e conseguia vê-las, uma película de luz sépia, as lembranças quase flutuando: seu pai enchendo o cachimbo, a mãe descascando maçãs pra rechear uma torta, o irmão mais velho ensinando tabuada ao caçula, o tempo esfriando. (Trecho do conto O Gato Que Ri).

Ambientado em cenários diversos e repleto de simbologias, Chuva Secreta, novo livro de contos da escritora Állex Leilla, traz 09 histórias ligadas pelo signo da chuva: forte, fina, rente, inclinada. Com ares de dilúvio. Fechando ou abrindo estações. Prevista ou inesperada, a chuva cai e provoca confissões e reflexões. Partilhas e autoconhecimento. Medo e paixão. Isolamento e entrega. Crimes e descobertas. A água, símbolo da subjetividade humana, varre os tantos mundos “secretos” das personagens, cujas urgências implicam, quase sempre, transformação em suas condições de sujeitos.

Segundo Luiz Bras, nos contos de Chuva Secreta, “a paixão e o medo são vascularizados, cheios de veias e artérias que os conectam ora ao silêncio ora ao estrondo”. E o que provoca o “frenesi” nas histórias, o que motiva “essa batida cardíaca é a busca do sentido de autenticidade”. Para o crítico e escritor, “todos os visionários e visionárias de Állex Leilla procuram desesperadamente a autenticidade. Na pintura, na poesia. No teatro. No outro. Na chuva”.

Seja tentando escapar à perda de foco provocada pelo peso de um drama familiar, seja revisitando o mito da alma gêmea e se deparando com um crime passional, os mundos molhados de Chuva Secreta podem se descortinar em São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Palmas, Maceió, Aracaju, Salvador, ou mesmo frente a uma janela chuvosa. Os cenários são muitos e a sede dos sujeitos, voraz. Por isso, ora podemos flagrar uma jovem leitora cujo desejo recai sobre a vizinha do apartamento da frente, ora nos deixaremos levar pelo tom poético que embala a saudade de um rapaz, cujo companheiro se mandou para o Oriente. Numa janela seguinte, é possível admirar o tom erótico de um sujeito que não se sente nem menino nem menina, mas epiceno, ou nos divertir com o conflito de ares apocalípticos que se desenrola entre um pelotão de varredores de rua e os demais indivíduos que por ali perambulam. Janelas avante! E experimentaremos uma enorme compaixão pelo sujeito que se autodenomina o ser humano mais feio do planeta. A feiura é uma desgraça sem conserto, ele nos avisa logo na primeira linha do conto. Avancemos, a fim de nos perder na complexa história da dramaturga que revisita o baú de inéditos e dispersos da grande amiga já falecida, pondo em xeque toda uma ética acerca do valor dos espólios deixados pelos escritores.

Em verdade, desimporta qual janela ou em qual ritmo iremos, inicialmente, nos perder. O que realmente importa é perceber que em todas as histórias dos visionários e visionárias de Állex Leilla sobram dias chuvosos. E esses têm cheiro, cor, formas, texturas variadas.

sexta-feira, novembro 01, 2013

Trecho de Chuva Secreta - lançamento 09/11, às 19h, Stand da Casarão do Verbo, Bienal da Bahia


A feiura é uma desgraça sem conserto. Como se te amputassem a vida e te obrigassem a fingir, diariamente, estar vivo. Você, morto, é forçado a encenar o teatro dos vivos, sabendo-se, íntima e miseravelmente, em putrefação. Existe dor maior do que odiar a imagem de si mesmo? Rejeitar cada milímetro dessa imagem que você sonha ser de mentira, e é real, desse corpo que você pensa ser emprestado ou passageiro, mas, talvez por pirraça, talvez por descuido do Criador, é definitivo, é seu?
Às vezes, o cansaço de viver em autorrejeição traz alguma trégua, e, como por encanto, você deixa de visualizar a si mesmo do outro lado desse que é, sem dúvidas, o pior objeto confabulado pelo homem: o espelho. Deixa de visualizar a si mesmo amiudado, retorcido, no centro do espelho carrasco, do espelho desgosto. Vem se assentar na face uma estranha mancha branca, qual brincadeira em que seu rosto foi tirado de foco. Assim, desfocado, é possível atravessar a luz diabólica do espelho, pairar sobre ele, percepção suspensa, quieta mágoa de não ser o que se quer. Instante de alienação, quando se alimenta a mais idiota de todas as esperanças, a de que, num passe de mágica, tão misterioso quanto um dia lhe foi relegado ser feio no mundo, sem qualquer explicação ou lógica, seu rosto, seu pescoço, seus cabelos, so-bretudo seus ombros, ora atarracados e desarmônicos, sejam belos e perfeitos, uma obra de arte, diriam os outros quando lhe vissem do outro lado, desencarnando o patinho feio, materializando o mais belo dos cisnes.


Ser feio, verdade seja dita, corrói vagarosamente os nervos. E quando se diz feio não se quer apenas mencionar aqueles estranhos narizes que sobram em certas faces, nem se deseja lembrar de pelos nocivos ao ambiente, ausência ou excesso de carne nos lábios, pele lixa de unha resistente a qualquer creme, perna mais curta que a outra, cabelos infelizes, testa larga, tórax estreito, bunda batida, peito caído, bochechas de mais, bochechas de menos, barriga flácida, olhos de peixe morto, pálpebras desengonçadas, pau minúsculo, vulva pra fora... não! Refere-se, aqui, à feiura absoluta, à feiura sem esperança, que faz as pessoas virarem a cara, não responderem a seus bons dias, maldizerem a ideia estúpida da natureza ao lhe conceber. Plástica? Só se fosse dos pés à cabeça.


O sexismo, a homofobia, o racismo, os dependentes químicos, os portadores de deficiência física ou de problemas mentais, tudo, tudo pode ser minimizado ou corrigido. Os direi-tos de quem se enquadra nessas minorias podem ser reconhecidos, ou, caso haja resistência do entorno, pode-se lutar em prol deles, organizar campanhas, confrontos públicos, propagandas, cartilhas, processos judiciais e políticos, promoções culturais, cirurgias, reparações. Quando não, há o conforto da compaixão humana, gosmenta, caindo sobre àqueles desafortunados. Mas, Deus, é preciso ser honesto ao menos uma vez!, é preciso verdadeiramente reconhecer: quem tem compaixão com os feios? Quem, de fato, perdoa a feiura-desconcerto, a feiura-constrangimento, aquela que desconhece sexualidade, classe social, etnia, não respeita orga-nismos saudáveis ou enfermos, que se sobrepõe a qualquer tentativa de amenização? A feiura-exagero, a piorar a luz miserável do mundo, a irritar o entorno?


Alguns dirão: a insatisfação é a mola -mestra de todo ser humano. Mas o que quer que digam em seus cantinhos fétidos não tem importância, não interessa. Aliás, por amor à verda-de, deve-se acrescentar: ser feio, demoniacamente feio, pode também trazer uma boa patologia — acaba-se por restar indiferente à fala, à dor alheia. Em geral, não se toma conhecimento do outro, não se quer saber.

* * *

Queria você que fosse a vida e apenas ela afiando as garras no corpo covarde que sempre recusa a guerra e gosta de risos e sacadas, de lugares perfeitos pra se abrigar. Mas, você bem sabe, existem outras coisas agarradas à dinâmica da vida, coisas que mudam de plano, confundem, exaurem. Ora são vultos antigos desautorizando a lógica do presente, ora são pensamentos retrocedendo, e é você indo, você vindo, você de novo, a se contorcer, patinho feio virando cisne, mais-que-perfeito, lá, em algum lugar aonde se deseja, se tenta tanto e nunca, never, jamás, se consegue chegar. Feito aqueles sonhos irritantes em que se está em perigo, próximo à entrada de várias pontes, mas não se é capaz de atravessar uma sequer. Como saber qual é a ponte correta e, pior, dentro dela, ao se escolher uma entre tantas, na entrada, no meio, no final, como saber pra que serve atravessar a ponte escolhida, se de olhos abertos uma ponte é uma ponte, nada além?

Calma. Hoje é seu aniversário. Reze uma oração pra seu pai. Acenda duas velas, uma pra ele, outra pra si mesmo. Você faz aniversário no dia da morte dele. Isso traz mais proble-mas: coisas defronte de outras, funduras se sobrepondo a superfícies, inutilidades enfraque-cendo o real. Mas, espere... o real, você disse? Ora, o real! Que vem a ser? Uma criança cor-rendo com roupa esvoaçante, por cima dos telhados das casas quietas? Está mais do que na hora de se esquecer o real.
Você não tem fome, bebe apenas café preto. Algumas pessoas ligam te dando para-béns, desejando felicidades. Às vezes, se atende, outras, não. Esse movimento é aleatório, não depende do número registrado no visor do telefone, depende de se querer, naquele instante, atender ou se fingir de ausente. Marlene ligou quando se estava no banheiro, deixou mensa-gem na secretária. César ligou agorinha, você atendeu. A mãe ligou três vezes. Depois de duas horas, você resolveu ligar de volta pra ela. Mas a fala das pessoas, é preciso reconhecer: nada implica, nada faz valer. O desejo das pessoas não é uma companhia nem uma falta, não é uma possibilidade nem um mistério. São somente o desejo e a fala delas, uma realidade sonolenta, do outro lado do mundo, desconectada.

Após os telefonemas, cai no sofá e lembra: sonhou coisas confusas, outras bonitas. Dormiu muito cedo, quando despertou, fazia um tempo fresco. Havia um bebê, você dava banho nele. Depois, não era mais um bebê, e sim o gato do pai, que também já morreu. Era difícil dar banho no gato, mas o pai ajudava. Estavam no quintal da casa de sua infância. Em seguida, uma mudança brusca de cenário: você se encontrava numa cidade quente, desconhe-cida, a praça cheia de gente, tudo era sujo, fedia. Enjoado, você atravessava a rua, querendo se livrar daquele mundo. Do outro lado, havia uma quietude de espelhos, e, no interior deles, a metamorfose: você era a pessoa mais bela de todo planeta! Daquelas belezas irreais, como no cinema ou na TV, traços milimetricamente dispostos, corpo forte, primoroso, dor nenhuma nos movimentos. Plasmada, precisa, sem falhas, sua beleza levitava de vitrine a vitrine, com uma fluidez só permitida às primeiras luminosidades do dia.

* * *

Há uma lei em todos os aniversários: seja em qual for o dia da semana em que ele caia, falta-se ao trabalho ou a qualquer outro compromisso, a fim de permanecer a manhã toda em casa, à toa. Por vezes, escolhe-se andar de bicicleta, outras, almoça-se fora, vai-se sozinho ao cinema ou a exposições de arte, perambula-se por parques, atravessa-se a ponte rumo à Atalaia Nova, onde é possível passar três, cinco horas em absoluta paz. Quase sempre se encerra o dia com uma garrafa de vinho tinto.
Milagres não existem, eis o mantra a se repetir ao cisne-obsessão que, volta e meia, aproveita o seu cumpleaños pra instalar cantigas bobas no pé do ouvido. Enquanto você se move pela cidade, em cima da bicicleta, tenta ignorá-lo, optando, à força, somente por existir, sem demandas nem queixas, existir vazio, pleno, pedalando devagar, sem pensar no caminho, cara enfiada nos óculos escuros, chapéu, fones no ouvido, preparado pra ignorar o mundo, caso o mundo resolva se colocar, por qualquer que seja o tempo ou motivo, no centro luminoso do caminho. Isto se aprendeu desde pequeno: ignorar o entorno, os acontecimentos. Passar invisível entre eles, morto-vivo, caramujo. Ensimesmar-se, e assim se vingar do mundo com seus serezinhos saudáveis, os rostos corados, como quem comeu pudim de leite da vovó a vida inteira, numa cozinha de azulejos portugueses.

O pai dizia alguma coisa vaga sobre o tempo. Relíquia de que agora não se pode cap-turar com exatidão. O olho solto do espaço nalgum canto do planeta a sugar aleatoriamente os fragmentos do tempo. Cada novo cérebro agarra um pedaço dele e tenta sobreviver. Talvez fosse importante, quem sabe? É preciso pensar a respeito. Mas quando? Como? O tempo é um trem mental. Péssimo condutor a te fazer embarcar em estações previamente perdidas. As imagens, quem dera você pudesse existir no centro, não na periferia delas, ah!, as imagens de onde você foi decepado, elas abrem seu leque de infinitos pontos multicores, te sustenta por três, seis, nove segundos, depois, tudo se perde num lamaçal desprezível.

O pai era um intelectual. Dizia coisas impossíveis. Coisas sem utilidade, entretanto, bonitas, capazes de sumir na atmosfera, qual som por vezes tirado da enorme moringa de barro, quando a empregada ia enchê-la d’água e batia toc-toc, tão distraída, toc-toc, ela batia o caneco de louça na barriga da moringa. Uma vez, você comentou o quanto lhe doía ser feio. O pai fez um silêncio de suspiros, aquele silêncio pior do que todos os silêncios, porque cheio de palavras contidas que o outro quer dizer, mas, por falta de coragem ou por piedade, não diz. Há algo pior do que a falta de coragem, se não a piedade? A tal energia a que chamamos vida é mesmo uma grande lástima, disse ele, dias depois, descontextualizado, triste. Vem, envolve-nos, depois abre crateras, deixando-nos de cara com o cansaço. É cansaço de esmolar olhares, cansaço de esmolar beijos e abraços, de ser um corpo não livre, de querer correspondência, querer, acima de tudo, permanecer.

Quando ele disse isso acerca da vida, a calma disfarçando certa tristeza na voz, tudo dito num fôlego único, como um ator que ensaiou apenas essa fala e ali estivesse, últimos segundos da peça, antes de o diretor mandar cerrar as cortinas vermelhas e o público monotonamente se levantar pra bater palmas. Como um ator secundário, condenado a ser detalhe final de uma trama já resolvida por atores maiores. Quando ele disse isso, a ficha caiu: o pai!, também o pai era feio de doer! Você era tão autocentrado na sua desgraça de ser feio que demorou a perceber: a feiura é uma herança dele. [...]


* Trecho do conto "Não se esqueça de pisar firme no coração do mundo", que integra Chuva Secreta.

** O conto "Não se esqueça de pisar firme no coração do mundo" foi publicado, antes, em alemão, na antologia Wir Sind Bereit, da Editora Lettrèatage (Berlim, 2013), organizada por Marlen Eckl e lançada na Feira de Frankfurt, este ano.

quarta-feira, outubro 30, 2013

Coisas de Renato Pedrecal Jr.


Renato no Facebook, hoje há pouco:
Considere a seguinte situação: Você está em uma sala totalmente fechada onde há duas portas, sendo que uma delas leva à liberdade e a outra leva à morte. Cada porta é vigiada por um guarda, sendo que um deles sempre mente e o outro sempre diz a verdade. Os guardas se conhecem um ao outro, mas você não tem a mínima ideia de qual é a porta certa e nem qual dos guardas é o mentiroso ou o que diz a verdade. Você tem direito a fazer uma única pergunta a um deles, e obter uma única resposta. Que pergunta você faria pra escolher, sem qualquer sombra de dúvida, a porta da liberdade, e como você faz a escolha?

Isso me lembrou aquele conto de Kakfa em que o sujeito fica a vida inteira diante de uma porta, que está protegida por um guarda. Ele espera um dia ser chamado (ou atendido, não sei bem!). No fim da vida, pergunta ao guarda por que nunca foi chamado, ou por que a porta não abre (agora não me lembro bem!). O guarda diz que a porta só podia ser aberta pra ele e se ele pedisse (mandasse?). Infelizmente, o sujeito não teve tal ideia!

Minha resposta:

Tanto faz: a morte liberta e a liberdade humana nos leva à morte (caminho natural de quem está vivo). Escolha qualquer porta, pergunte qual dos guardas toma um Jim Bean contigo, prefira sem gelo, bata na madeira e vá!

terça-feira, outubro 29, 2013

Impressões FLICA


1. É a terceira vez que venho à Cachoeira, penso quando a Van cruza as ruas de Santo Amaro. E todas as vezes que vim foi em função de eventos literários. Isso é bom, não?
2. Pensamento que não quer calar: por que será que Santo Amaro é tão feia, não herdou nem um tantinho assim da beleza de Cachoeira? Sim, sei que nasci numa cidade igualmente feia, mas não estamos passando por ela neste instante!
3. Faz muito calor na cidade literária de Cachoeira, e é um calor um tanto seco, não tem essa umidade "graças a Deus" de Salvador. O atendimento nos bares e restaurantes é tão ruim quanto o da capital, mas a cerveja é sempre geladíssima (coisa rara em Salvador)! E uma Heineker gelada tem seu lugar!
4. "Entre flores e espartilhos" é o tema da minha mesa, com Jorge Portugal mediando e Sylvia Day do outro lado. Tudo gira em torno do erotismo, quase todas as perguntas. Há muitos rostos conhecidos no meio da plateia: alunos, orientandos, professores da UEFS, o pró-reitor e sua esposa... Alguns escritores também. Do meu lado direito, Pepetela assiste ao debate, seríssimo.
5.Perguntaram a Sylvia Day se ela é ciumenta, se ela acha certo a mulher dar uma de vítima, se ela se incomoda de ser tachada de escritora "erótica". Me perguntaram se eu concordo em excluir Eça de Queirós e Machado de Assis da literatura, por serem ambos misóginos. Sai pra lá, sangue ruim, pensei na hora, mas respondi educadamente: não, claro que não concordo, escritores são de carne e osso, não são deuses infalíveis, escrevem com sua época, suas limitações, seus erros e seus acertos, ao lado da misoginia, há perfis femininos maravilhosos nos dois autores - nem me lembro dessa misoginia toda em Machado de Assis... De quem será que se desejava falar, afinal?
6. Me perguntaram se sei a diferença entre fetichismo e sadismo, bem como a diferença entre um "não" que quer dizer "sim". A nós duas perguntaram se nos excitamos ao escrever uma cena erótica e, achando pouco, ao final da mesa, se nós nos masturbamos - separadamente, é o que compreendemos! Elementar, meu caro Watson, eu respondi, às gargalhadas. Sometimes, disse Sylvia, que, visivelmente, não gostou da pergunta.
7. Por que se escreve tanto sobre o erotismo, indagou, meio irritado, um internauta, sendo que eles mesmos cravejaram o debate de perguntas sobre o erotismo, algumas por demais repetidas. Vá entender!
8. Você fala inglês?, me perguntou, no bar, Ewan Morrison. Falo mal, mas compreendo, respondi. Adorei suas falas, ele disse. Mas que gracinha, pensei.
9. Duas mesas foram canceladas em virtude da intolerância de um grupo de 30 pessoas que se dizia a favor das cotas - assunto que sequer estava na pauta. Uma interrupção sem sentido, pois a Maria Hilda Baqueiro Paraíso estava, na verdade, dando um banho de história em Demétrio Magnoli, defesa melhor dos direitos indígenas e afrodescendentes não poderia haver. Mas quem disse que se deseja vencer pela argumentação em nosso paisinho? Houve gritos raivosos; dois estudantes nus se pintando de branco e vermelho e outro levantando uma cabeça de porco sangrenta no palco. A bem da verdade, uma performance digna de vômito, sem qualquer traço artístico. Aqui e ali, a plateia se manifestava querendo ouvir o debate, mas sem força suficiente pra fazer valer sua vontade. Todos queriam ouvir os palestrantes, mas a minoria venceu. Tentaram propostas, mas o grupo queria que o debatedor fosse embora e não houvesse a palestra de outro "racista", mais tarde. Queriam e conseguiram. Todas as outras pessoas que ali estavam tiverem de se dobrar ao desejo daqueles 30! E aquela Cachoeira guerreira?, pensei, onde ficou mesmo?
10. À noite, nas ruas, do garçom ao motorista, da dona de casa ao adolescente, do estudante ao professor, todos da cidade lamentavam e condenavam a manifestação. A maioria estava presente na hora, mas não fez nada pra impedir o abuso dos jovens. Do meu lado, João Filho dizia: foi assim que Hitler começou. Uma pacificidade bastante estranha, é verdade.
11. As cotas já são lei, independentemente de alguém ser a favor ou não. Eu, inclusive sou a favor, mas me tivessem dado uma baioneta nas mãos naquela hora, que, decerto, outras cabeças iriam sangrar no palco. Deus não me deu asa, é certo.
12. E você escreve mesmo tanto assim sobre o erotismo?, me indagou outro escritor, um dia depois da mesa "Entre flores e espartilhos". Escrevo porra nenhuma, uma coisa aqui e ali, mas inventaram isso, agora já era, rebati. Bem, o importante é inventar, não?, ele respondeu. Decerto, considerei. Gargalhadas gerais.
13. PEPETELA: depois que ele autografou meus exemplares, tomei sua mão num impulso e beijei. Ele ficou sem graça. Não deves fazer isso!, me disse. Mas se és um mestre, rebati. Em verdade, só costumo beijar a mão de João Filho, mas, neste caso, foi uma boa exceção.
14. Sempre achei que Joca Rainers Terron fosse um cara pedante, desses que se acham fodões, mas que só falam asneiras. Não é verdade! A fala dele foi uma das mais bacanas da FLICA. Fala superbem e de forma bastante lúcida. Por sinal, a plateia também achou isso, porque o aplaudiu euforicamente.
15. O retorno é mais light do que a ida: é noite e o carro desliza pelas estradas vazias.

segunda-feira, outubro 28, 2013

Chuva Secreta - conto por conto

Chuva Secreta apresenta 09 contos ligados pela simbologia da chuva, que funciona enquanto espaço para a urgência das descobertas subjetivas. A chuva cai e provoca confissões e reflexões, desfechos e autoconhecimento, varrendo esse mundo "secreto" das personagens; as nove histórias ocorrem em lugares variados (grandes cidades, em geral) e quase sempre implicam transformação da condição de sujeito:

- O Gato Que Ri traz as consequências de um drama familiar que de tão entranhado na mente do protagonista acaba atingindo sua visão, provocando-lhe confusão e perda de foco; gradativamente o sujeito vai perdendo a capacidade de "enxergar" o mundo, enquanto passeia por uma São Paulo alheia às dores subjetivas, mas cheias de marcas e signos que podem, subitamente, remeter o protagonista ao passado que ele deseja esquecer;
- Senhora Minha é uma revisitação do mito da alma gêmea; dois ex-amantes tornam-se, no mundo virtual, interlocutores vorazes e assim conseguem suplantar uma antiga demanda de alma gêmea ou par perfeito. Paralelamente a esse fio narrativo, o leitor vê desenrolar um crime, que surpreende pela crueza com que flagra a realidade desses personagens, marcada pelo ciúme, pelo sentimento de vingança e dissimulação; um crime passional se desenrola do outro lado da linha que separa a idealização amorosa, e tal acontecimento exige novo posicionamento do protagonista; a história se passa em Belo Horizonte, Rio de Janeiro e Palmas;
- Conexo é um conto escrito em forma de flash, que se desenrola em Minas Gerais, e flagra uma mulher dividida entre o desejo de ler um bom livro numa tarde chuvosa (sede de arte, portanto) e o desejo de seduzir a vizinha do apartamento de frente (sede sexual, melhor dizendo: homoerótica), a conexão entre esses dois desejos se faz a partir da própria concepção que a personagem constrói acerca do feminino e de sua alta capacidade de adaptação;
- Quando Estávamos nos Mesmos Arvoredos é o embate de valores coletivos versus valores individuais; tal confronto, com tons apocalípticos, ocorre simbolicamente numa praça em Salvador, quando um pelotão de varredores de rua (na verdade, a voz da ordem objetiva) se vê acuado pelas ações desconectadas e egoístas de outros indivíduos que não partilham da ideia de "coletividade";
- O Azul que Sobra Quando Breu é uma carta de amor de um homem apaixonado ao seu parceiro, que lhe abandonou pra ir se aventurar no Oriente; a rememoração desse caso de amor interrompido ocorre numa Salvador chuvosa, que flagra as instabilidades das relações amorosas contemporâneas que podem ser rompidas num piscar de olhos, por uma ausência de um projeto de vida a dois;
- O Eixo e a Sombra é um dos textos mais longos do livro, e registra quatro complexos eixos temáticos: a dor da perda de uma amiga querida (que nos leva a uma revisão de nossa posição acerca da morte); o conflito ético entre publicar ou não publicar o espólio literário dessa amiga morta (no caso, uma dramaturga com um baú de peças inéditas e inacabadas, o que nos leva à discussão do que é válido artisticamente e o que é puro interesse mercadológico); a dificuldade de se manter uma única posição ideológica (o que nos leva a um estranhamento dos caminhos que nosso pensamento pode, de repente, tomar) e a dificuldade humana de conhecer sua própria sombra ou duplo;
- Felicidade Não Se Conta é um conto homoerótico que tem como pano de fundo uma Maceió chuvosa e isoladora; o texto mostra o cotidiano de dois artistas (um poeta e um pintor) às voltas com a necessidade de sobreviver ao ritmo acachapante do cotidiano a dois; através de signos poéticos como o dos dias chuvosos, as cores, as canções e demais referências do casal, eles vão desfilando toda uma história de solidão, melancolia, perdas, mas, também, de cumplicidade e realização amorosa; conto vencedor do 20º Concurso Luiz Vilela, em 2010;
- Não Se Esqueça de Pisar Firme no Coração do Mundo é a triste história de um sujeito que se considera a pessoa mais feia do mundo; prestes a completar trinta anos, esse rapaz passeia de bicicleta pela sua cidade (Aracaju) e nesse passear investiga subjetivamente as razões porque se tornou esse ser humano acuado, isolado e "patinho feio"; novamente, como ocorre em Senhora Minha e O Eixo e a Sombra, a ideia de uma subjetividade escondida ou "que faz sombra sobre a outra" surge e faz um jogo de opostos entre o sentimento de feiura absoluta (patinho feio) e a projeção interna desse protagonista (cisne); conto selecionado pra integrar a antologia alemã Wir Sind Bereit, organizada por Marlen Eckl e publicada em 2013, pela editora Lettrèatage;
- Epiceno é uma espécie de poema em prosa, cantado ou narrado por um protagonista que não se sente nem homem nem mulher, um ser humano epiceno; às vésperas de ficar só, temporariamente, em virtude da viagem de seu namorado (poeta profissional) para um evento literário, o personagem "epiceno" repassa as sensações eróticas de pertencimento e entrega.

Chuva Secreta já está à venda na Livraria LDM. Próximo lançamento: Bienal do Livro de Salvador, dia 09/11, às 19h., no boxe da Editora Casarão do Verbo.

domingo, outubro 27, 2013



Em papo 'quente', escritoras têm uma certeza: sexo não é tabu na literatura
Állex Leilla e Sylvia Day participaram da mesa "Entre flores e espartilhos".
Uma pergunta puxou o debate: 'Por que tantos livros com temas eróticos?'

Por que tantos livros com temas eróticos? Esta foi uma das perguntas da plateia para as escritoras Állex Leilla e Sylvia Day na última mesa do terceiro dia da Festa Literária Internacional de Cachoeira, realizada nesta sexta-feira (25).

De um lado, a escritora baiana, autora de "Primavera dos Ossos" e, recentemente, do livro "Chuva Secreta", Állex Leilla, defendeu que o tema existe desde a origem da literatura. Do outro, a escritora do best-seller "Crossfire", Sylvia Day, diz que falar sobre sexo atrai a atenção do leitor e, quando percebem que os personagens têm conteúdo, eles começam a acompanhar a narrativa. Ambas convergem da mesma opinião: sexo não é tabu na literatura ou na vida pessoal, pelo menos para elas duas.

Ciúme, mulher, comportamento e experiências sexuais foram alguns dos temas abordados pelo público no debate. Ao ser perguntada se já foi julgada por escrever sobre sexo, Sylvia Day afirma que acontece a todo tempo. "Por exemplo, as críticas nos jornais principais. Eles não entendem qual é o sentido real da história. Mas geralmente eu não presto atenção para esse tipo de crítica. Eu tenho outros milhares de leitores", diz. Alléx Leilla afirma que nunca foi julgada por escrever sobre sexo, mas relata um fato que chamou sua atenção. "Já escrevi alguns contos com homossexuais e, quando ganhei um prêmio, soube que um dos jurados disse que não iria votar no livro porque só tinha 'viado'", revela.

A discussão sobre a pornografia teve espaço na mes,a intitulada "Entre flores e espartilhos", que teve mediação do professor Jorge Portugal. "O pornográfico é extremamente explícito, não tem muita imaginação, já vem tudo mastigado. Já erótico é questão de sugestividade. Normalmente sugere o que o leitor vai compor. Tenho tendência a gostar mais do erotismo do que do pornográfico. O pornográfico me cansa", relata Állex Leilla.

Sobre a abordagem do sexo pelas mulheres, Sylvia Day defende que o tesão começa na mente e é preciso estimular essa preliminar mental para se conquistar uma mulher. A escritora norte-americana defende que, para escrever algo bom sobre sexo, é preciso ser bem resolvido e ter experiências bem sucedidas.
"Não adianta ouvir falar sobre orgasmo se você nunca teve um", diverte-se. Segundo Sylvia, ela não tem o objetivo de influenciar os leitores, mas não vê nenhum problema caso isso aconteça. "Não estou tentando escrever um manual sobre sexo, eu escrevo sobre o amor. As pessoas descobrem e experimentam a partir dos livros e isso pode ser um efeito colateral, mas não é minha intenção", declara.

IN:
http://g1.globo.com/bahia/flica/2013/noticia/2013/10/em-papo-quente-escritoras-tem-uma-certeza-sexo-nao-e-tabu-na-literatura.html

quarta-feira, outubro 23, 2013

Meu novo livro de contos... Chuva Secreta.


Será lançado em primeira mão em Cachoeira, na FLICA, dia 25/10/2013, após debate "Entre flores e espartilhos". E em Salvador, no dia 09/11, na Bienal do Livro (Centro de Convenções).

domingo, outubro 20, 2013

Na bagagem...


Trouxemos:
a) "Obra completa en verso", de José Antonio Muñoz Rojas (Espanha);
b) "Obra completa", de Ramón Gaya (Espanha);
c) "Contos reunidos", de João Antônio (Brasil);
d)"Estuario", Tomás Segovia (Espanha);
e) "Elegías menores", de José Jiménez Lozano (Espanha);
f) "Estação central", José Tolentino Mendonça (Portugal);
g) "Poesía completa", de César Vallejo (Peru);
h) "Coral", Sophia de Mello Breyner Andresen (Portugal);
i)"De andenes y partidas", Horacio Goslino (Argentina);
j) "Coplas de ciego", Ezequiel Martínez Estrada (Argentina);

Não era uma Feira para leitores e os livros não estavam à venda, mas no último dia da Messe, a gente "insiste" até que nos deem ou vendam! Contrariando uma das maiores agentes literárias do País, que aconselhou numa entrevista aos escritores que não escrevessem poesia nem conto, porque não vendem, nossa mala veio predominantemente cheia de poesia - escolhas todas de João Filho, é claro! O meu preferido de todos é José Tolentino Mendonça, de quem reproduzo alguns versos:

Os que falam de mim dizem que sou pobre
Existo à maneira de uma árvore
Tenho diante e atrás de mim a noite eterna
Vacilo, duvido, resvalo
E sei: a maior parte das vezes o amor nasce do erro
transcreve-se a azul ou a negro
sobre passagens, casas inacabadas, alturas remotas
[...] José Tolentino Mendonça: "It's time to be clear".

P.S. Quem quer saber de vendas, meu Pai??? O conselho que sempre dou a quem quer ganhar dinheiro com literatura é: vá pra música, vá pro cinema, vá pras artes visuais, ou vá pro inferno... sozinho, por que haveremos de ir juntos?

sábado, outubro 19, 2013

Impressões de viagem

1. Frankfurt, Alemanha: interessantíssima viagem, apesar de muito cansativa - 10 horas num avião é um carma sem fim! Mas ficamos num lugar paradisíaco com um rio à porta, e um restaurante dentro de um barco/navio. O bairro era quase todo de 1600. Fomos em algumas ruas que pareciam perdidas no tempo, um tanto medievais.

2. Fora o frio de lascar, (chegamos com 12º, mas foi baixando pra 7º, 6º, 5º, 4º, e antes de sairmos diziam que chegariam a 1º, e ainda era outono, frisavam!), tudo era muito acolhedor. Podem me chamar de preconceituosa, mas fiquei espantada com a receptividade dos alemães - todo mundo fala inglês e param pra dar informação sorrindo, são muito solícitos. Não esperava tal comportamento do povo que gerou Hitler! Os agentes literários e os tradutores na Messe Frankfurt também muito receptivos e educados - tão distantes de nossos representantes, ó vida, ó herança!

3. Descobri que adoro cerveja! Sou uisqueira nata e todos os meus amigos sabem que cerveja me dá azia. Porém, as alemães não deram! São supergostosas. O segredo, nos disseram, é a água de boa qualidade, além da ausência de conservantes (as cervejas brasileiras têm muito conservante). Bebemos cerveja todos os dias.

4. Finalmente vivi um outono, com aquela paisagem típica dos filmes de Kiéslowsk: árvores amarelo-bronze, tudo meio amarronzado, trens excelentes, pontualíssimos e melancólicos. Ninguém te pede bilhete algum, subtende-se que se você pega o trem é porque já pagou. Tínhamos direito a pegar qualquer um porque a inscrição como autor na Feira de Frankfurt dava esse acesso, mas ninguém nos cobrou coisa alguma - não há catracas em lugar nenhum. As ruas são hiperlimpas, ninguém atravessa com sinal aberto, mesmo que não venha carro algum - isso me deu impaciência várias vezes! Também tem uma pista de bicicleta e você, enquanto pedestre, não pode passar por ela. Tem uma ponte em que os amantes vão e colocam um cadeado, selando o compromisso - mas não fizemos isso, estava muito frio, apenas passamos de táxi pela ponte.

5. A comida é boa e muito barata em comparação com a daqui. Há restaurantes de tudo que é tipo. Tem hamburger vegetariano (não é de soja, é vegetariano mesmo, com um mundo de vegetais dentro e por fora aquela "capinha" tipo risoles). Uma delícia! Fomos em restaurantes tailandeses maravilhosos e muito baratos. Também fomos comer sobremesa num lugar turco, doces muito variados e caprichadíssimos, todavia, açúcar demais cansa meu paladar!

6. Fizemos, eu e meu senhor, João Filho, duas leituras de textos nossos vertidos pro alemão - João Filho pela editora que o traduziu na antologia Pop Corn, organizada por Timo Berger; eu pela editora Lettréatage, que publicou a antologia Wir Sind Bereit, organizada por Marlen Eckl; e nós dois lemos conjuntamente, no espaço da Biblioteca Nacional, trechos da antologia Autores Bahianos, publicada pela Editora P55 em convênio com a Secult/BA, uma publicação em 4 línguas (português, alemão, inglês e espanhol). Depois disso, os livros foram doados gratuitamente pela idealizadora da antologia e coordenadora de literatura do estado, Milena Britto.

7. Creio que a polêmica do discurso de Luiz Ruffato e a não-ida de Paulo Coelho e demais fofocas já devem ser notícias velhas e prefiro não comentar... a não ser que Ruffato está bombando na Alemanha!

terça-feira, janeiro 22, 2013

Pra ler/ver/ouvir

1. A sabedoria do Padre Brown, de G. K. Chesterton (contos) - cada conto é um crime desvendado, em geral, assassinatos e/ou suicídios, mas o enredo e as histórias são o de menos, o que realmente conta no livro é a sutileza da percepção do narrador que pode ser sintetizada na velha ideia de que todo ser humano é por natureza simplório e complexo a um só tempo. Narrativas irônicas com as observações mais inusitadas e mais certeiras da condição humana. Mais um britânico pra eu amar!
2.Minha versão do amor (Barney's version), dir. Richard J. Lewis, com Paul Giamatti (longa) - inicialmente, parece uma historinha a mais de desajuste entre mundo objetivo e sujeito protagonista, mas depois o filme vai se ampliando, mesclando humor e existencialismo, apresentando novos tons a esse desajuste que envolve desde o inerente "cheio-vazio" típico de mentes muito inquietas, passando pelas tentativas tão humanas de se ajustar/ser feliz, até chegar naquelas cenas e passagens inexplicáveis que acontecem em nossas vidas: somos sujeitos delas, quisemos agir assim, mas miseravelmente sabemos que não deveríamos ter agido assim. Bom.
3. Sinta vontade de ficar, Andrea Martins (http://www.vagalume.com.br/andrea-martins/sinta-vontade-de-ficar.html) - Me mandaram o link por email pra baixar algumas músicas de uma banda daqui da Bahia que eu, por inércia, jamais havia ouvido (Canto dos Malditos da Terra do Nunca). De voz singular, Andrea Martins é um talento inato, chego atrasada pra apreciá-la, mas a descoberta me faz feliz.

Em Não se vai sozinho ao paraíso, primeiro romance que integra a trilogia místico-erótica de Állex Leilla — cujo centro são as micro-...