terça-feira, janeiro 09, 2007


O dia está claro, suavíssimo. Não querer fazer coisa alguma. Até as leituras podem esperar. Esticar os pés na cama, morta de vontade de nada fazer.

Deslizar e deslizar.

Lembra quando você nos deu sabonete de erva-doce, naquela primeira vez em que tomamos banho em tua casa?

Pra onde vão os sabonetes, o que fazem com eles os donos da casa quando as visitas vão embora? Usam de novo? Guardam pra novas visitas? Jogam fora?

As acácias estão mais amarelas, as folhas tão verdes, quase não conseguimos abandoná-las, sair da janela, voltar a atenção pra toda uma vida por refazer.

Aqui, se vê o mar: verde na praia, branco-marfim onde quebram ondas; azul-escuro pros lados de Barra; cinza-azulado no horizonte.

Nem as frutas nem as matas nem os bichos nem as flores. O mar. As cores saem dos nossos olhos, de nosso cérebro renovado e migram pro mar. O mar faz um tapete delas, das cores que parimos e codificamos na manhã. Usamos a luz do mundo pra ver o sol melhor, já que somos brasileiros e somos tão baianos, ela diz, por que não?

Quem nos esperará do outro lado da pista?

Sabemos que ela tem saudades.

Do centro do céu sem nuvens da cidade, sem primavera, mas tão verão-abafado-quieto, ela desloca a cabeça, olho direito, olho esquerdo, o tronco todo, pra ver o mar da janela. Molha as mãos e o rosto nesta imagem. Faz café.

Bicho desencontrado tentando sobrevoar a terra de muros e concreto que não nos pertence. Embaçando as palavras, ela chora com saudades.

Não adianta estender a mão. Ela não nos notará aqui, na surdina, à espreita.

Uma pequena solidão azul. As acácias quebrando. Nosso olhar em busca dela. A vida toda pra se refazer. E o não querer morrer na manhã suave por desagulhas do amor.

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